Thursday, January 20, 2011

Opposé Déjà Vu



Enquanto dormia e transformava meu presente em pretérito, acordei de uma forma diferente, marcante e única: acordei atordoado pelo meu medo. Parece que ele se personificou de tão intenso. Acordo (suado, tremendo e assustado) e olho a todo redor e vejo que tudo é mais escuro ao meu redor, logo penso que é a Adrelina correndo pelo meu sangue que me faz sentir tão perplexo pela madrugada tão infinita. 

Ouço os estilhaços do vidro se quebrando e caindo, bem como o ranger da porta de ferro sendo forçada para que desse passagem a crueldade que morava no coração daqueles homens.

De forma espalhafatosa, levanto-me e abro, com toda a minha displicência, abri a porta de madeira má colocada e de travas enferrujadas fazendo barulho tal que subjulgava as vozes murmuradas e o barulho da fechadura caindo após de ser violada, bem como minha casa.

Deparo-me com vários retrocessos em minha mete, de medo, de coragem, de zêlo, de desespero e todos se repetido e, eu via, que eram tão rápidos quanto a minha consciência atrelada a minha respiração alterada e pernas trêmulas, porém tudo acaba quando cruzo meu olhar sobre aqueles olhos: tudo some e só permanece o mundo sombrio e pertubador.

E houve a minha rendição. Meu filho foi testemunhar-me inferiorizado e prestes a ser manipulado. Porém minha compreensão, mesmo naquela situação, foi ponderada demais assumindo os limites da bondade. É uma semi-automática 9mm de cabo prata e cheia de arranhões que apontava para o pé do meu filho. E foi atingido. Caiu no chão chorando e se retorcendo de dor ía, em vão, para as paredes afim de transmitir aquela dor infernal que acabara de receber pela primeira vez em sua vida: um garoto de 6 anos que nem experimentou a dor de perder seu dente de leite recebe uma bala de calibre no pé. É impactante uma criança ver seu pé ensanguentado e avassalador para um pai ver seu filho brutalmente torturado.

Tive um momento de inércia total deste mundo e senti meu espírito de despedaçar. Personifiquei meu desprendimento da razão como se estivesse caindo do céu celestial indo para o escuro caloroso inferno: lugar perfeito para o nascimento dos meus instintos mais animais. A ira, o ódio foram temperos de um instinto animalesco que nem eu, que senti, posso descrever em palavras. Tornei-me um homem possuído e com sede de morte: um demônio que acabara de cair digno de Lúcifer.

Ignoro toda a periculosidade dos meus movimentos e eles se tornam impulsos intensos de destruição. Não me sinto humano, sinto-me uma força que quer ser liberada. Um homem teve seu pescoço esmagado e morrendo por falta de ar, ao mesmo tempo que fixo meu olhar ao sofrimento da minha presa abatida e incapaz de viver, olho para o lado e minha razão volta gritando em desespero para que presenciasse um motivo ainda mais pertubador. A bala de 9mm perfura a cabeça, o peito, as genitálias, o joelho esquerdo, a clavícula e o último no rosto já coberto de víceras e sangue do meu herdeiro gerado do meu próprio.

Minha razão só permite olhar para o rosto do impiedoso, caído e malaventurado do que seria um homem. Logo em seguida, o leão da discórdia e fúria como um chute em meu peito e dilascerando-me fisicamente: adrenalina anormalizada, corpo superaquecido, olhos cobertos de sangue e vendo um líquido tão lustrante como o do rubi derramado e um instinto malígno maior do que aquele que acabara de fazer. 

Depois, até desconfio que Deus perdoaria o homem que matou meu filho com tantos tiros e não a mim, pois eu fiz algo que o Diabo viraria seu rosto um pouco para o lado em repúdio: contrariei todos os princípios naturais e celestiais sobre um corpo de um semelhante. Eu o matei como nenhum homem poderá matar o pior dos seres. Seria como um homem matando um demônio, mas era apenas um homem.

Pego o que resta do meu filho. Pobre criança: que deve estar chorando triste por mim no céu límpido, calmo e brilhante. Choro como se meu sofrimento se convertesse em lágrimas que saiam dos meus olhos alargados de tanto volume d’água que saíam deles.

Olho para o sangue coagulando: são 5:15 da manhã. O Sol nasce a media que me revela todos os detalhes da minha casa revirada e cheio do rubro líquido do meu filho molestado e morto em meus braços. Vejo a mesa com as cadeiras afastadas e duas caídas. Tento erguer meu braço inchado e com sangue coangulando, porém não vejo onde não tocar no frio sangue. Paro e permaneço admirando a luz entrar e mostrar ao dia que a noite foi contemplada a morte.

De repente, tudo escurece e levanto da minha cama cansado, lagrimando e bastante agitado. Vejo meu filho ao lado rindo pois eu parecia um boneco de Olinda mexendo os braços enquanto dormia e disse que era divertido. Olho para o vivente herdeiro com tanto amor que eu o machuco sua testa macia em meu ombro por puxar com tanta força seu corpo intacto e saudável. É um pai feliz que abraça seu filho mais precioso que teve um sonho em que viu tudo isso ir de forma pertubadora.

Os anos passam, meu filho cresce e é quase um rapaz. Jantamos e ele vai dormir. Enquanto me preparo, penso ouvir algo, porém ignoro e volto a deitar. Quando estou chegando no meu pretérito , o coração bate forte e o vidro estilhaça… de novo… 

1 comment:

Denise Mendes said...

Meu caro, o modo frio como o narrador descreve o fatal destino do menino, de fato é uma boa característica.
Esse é o primeiro texto seu,
que leio e devo confessar que ele me chamou atenção.

Parabéns!
http://denisemendes.blogspot.com/