Monday, November 21, 2011

Segundo Renovatio



Renovação ocorre em vários níveis e sob as mais complexas circunstâncias. Hoje experimentei pela dor. E, todos os dias, serão diferentes a partir de agora. Portanto, o suficiente foi dito: o motivo. O bom é que quando se recomeça, os pés estão mais firmes e, mais importante ainda, mais confiantes. Se ontem olhava ligeiramente para baixo, hoje eu, no horizonte, cego-me pelo Sol que brilha diante de mim.

Thursday, January 20, 2011

Opposé Déjà Vu



Enquanto dormia e transformava meu presente em pretérito, acordei de uma forma diferente, marcante e única: acordei atordoado pelo meu medo. Parece que ele se personificou de tão intenso. Acordo (suado, tremendo e assustado) e olho a todo redor e vejo que tudo é mais escuro ao meu redor, logo penso que é a Adrelina correndo pelo meu sangue que me faz sentir tão perplexo pela madrugada tão infinita. 

Ouço os estilhaços do vidro se quebrando e caindo, bem como o ranger da porta de ferro sendo forçada para que desse passagem a crueldade que morava no coração daqueles homens.

De forma espalhafatosa, levanto-me e abro, com toda a minha displicência, abri a porta de madeira má colocada e de travas enferrujadas fazendo barulho tal que subjulgava as vozes murmuradas e o barulho da fechadura caindo após de ser violada, bem como minha casa.

Deparo-me com vários retrocessos em minha mete, de medo, de coragem, de zêlo, de desespero e todos se repetido e, eu via, que eram tão rápidos quanto a minha consciência atrelada a minha respiração alterada e pernas trêmulas, porém tudo acaba quando cruzo meu olhar sobre aqueles olhos: tudo some e só permanece o mundo sombrio e pertubador.

E houve a minha rendição. Meu filho foi testemunhar-me inferiorizado e prestes a ser manipulado. Porém minha compreensão, mesmo naquela situação, foi ponderada demais assumindo os limites da bondade. É uma semi-automática 9mm de cabo prata e cheia de arranhões que apontava para o pé do meu filho. E foi atingido. Caiu no chão chorando e se retorcendo de dor ía, em vão, para as paredes afim de transmitir aquela dor infernal que acabara de receber pela primeira vez em sua vida: um garoto de 6 anos que nem experimentou a dor de perder seu dente de leite recebe uma bala de calibre no pé. É impactante uma criança ver seu pé ensanguentado e avassalador para um pai ver seu filho brutalmente torturado.

Tive um momento de inércia total deste mundo e senti meu espírito de despedaçar. Personifiquei meu desprendimento da razão como se estivesse caindo do céu celestial indo para o escuro caloroso inferno: lugar perfeito para o nascimento dos meus instintos mais animais. A ira, o ódio foram temperos de um instinto animalesco que nem eu, que senti, posso descrever em palavras. Tornei-me um homem possuído e com sede de morte: um demônio que acabara de cair digno de Lúcifer.

Ignoro toda a periculosidade dos meus movimentos e eles se tornam impulsos intensos de destruição. Não me sinto humano, sinto-me uma força que quer ser liberada. Um homem teve seu pescoço esmagado e morrendo por falta de ar, ao mesmo tempo que fixo meu olhar ao sofrimento da minha presa abatida e incapaz de viver, olho para o lado e minha razão volta gritando em desespero para que presenciasse um motivo ainda mais pertubador. A bala de 9mm perfura a cabeça, o peito, as genitálias, o joelho esquerdo, a clavícula e o último no rosto já coberto de víceras e sangue do meu herdeiro gerado do meu próprio.

Minha razão só permite olhar para o rosto do impiedoso, caído e malaventurado do que seria um homem. Logo em seguida, o leão da discórdia e fúria como um chute em meu peito e dilascerando-me fisicamente: adrenalina anormalizada, corpo superaquecido, olhos cobertos de sangue e vendo um líquido tão lustrante como o do rubi derramado e um instinto malígno maior do que aquele que acabara de fazer. 

Depois, até desconfio que Deus perdoaria o homem que matou meu filho com tantos tiros e não a mim, pois eu fiz algo que o Diabo viraria seu rosto um pouco para o lado em repúdio: contrariei todos os princípios naturais e celestiais sobre um corpo de um semelhante. Eu o matei como nenhum homem poderá matar o pior dos seres. Seria como um homem matando um demônio, mas era apenas um homem.

Pego o que resta do meu filho. Pobre criança: que deve estar chorando triste por mim no céu límpido, calmo e brilhante. Choro como se meu sofrimento se convertesse em lágrimas que saiam dos meus olhos alargados de tanto volume d’água que saíam deles.

Olho para o sangue coagulando: são 5:15 da manhã. O Sol nasce a media que me revela todos os detalhes da minha casa revirada e cheio do rubro líquido do meu filho molestado e morto em meus braços. Vejo a mesa com as cadeiras afastadas e duas caídas. Tento erguer meu braço inchado e com sangue coangulando, porém não vejo onde não tocar no frio sangue. Paro e permaneço admirando a luz entrar e mostrar ao dia que a noite foi contemplada a morte.

De repente, tudo escurece e levanto da minha cama cansado, lagrimando e bastante agitado. Vejo meu filho ao lado rindo pois eu parecia um boneco de Olinda mexendo os braços enquanto dormia e disse que era divertido. Olho para o vivente herdeiro com tanto amor que eu o machuco sua testa macia em meu ombro por puxar com tanta força seu corpo intacto e saudável. É um pai feliz que abraça seu filho mais precioso que teve um sonho em que viu tudo isso ir de forma pertubadora.

Os anos passam, meu filho cresce e é quase um rapaz. Jantamos e ele vai dormir. Enquanto me preparo, penso ouvir algo, porém ignoro e volto a deitar. Quando estou chegando no meu pretérito , o coração bate forte e o vidro estilhaça… de novo… 

Monday, January 03, 2011

Aquele Homem



Eu sou aquele homem dos mais banais. Daqueles que acordam pela manhã e vão fumar antes do café da manhã, demoram a sentar na mesa e tomam banho em cima da hora de sair de trabalhar. Sem contar que, já atrasado, não se despedem, na saída, e resmugam.
Daqueles que ligam o rádio do carro e só páram de trocar estações quando ouvem algo que convier. Que, no semáforo, olham para aquela bonitinha e pensam quão gostosa ela é, mas que perde-se na memória quando prosseguem adiante.
Que esquecem um aniversário de casamento, da criança e da mulher enquanto bebem sozinhos uma cerveja no seu boteco. Que repassam o dinheiro do mês para patroa não infernizar seus ouvidos já infernizados pelo seu patrão.
Que sabem chamar mulher de gostosa, mas sem coragem de falar com ela. Que não tem paciência de ouvir reclamações e enfurecem-se. Que só comem e não lavam os pratos e talheres.
Que são inseguros sem aquela a quem fizeram mostrarem o contrário. Daqueles que não atendem um telefone. Que já chamaram de vagabunda a quem não deu confiança.
Sou um homem dos banais, mas o que me torna aquele homem, o homem, é ter feito você dizer que é feliz comigo e me amar. E daí, não sou mais daqueles homens, sou o homem banal: só para você.


Emanuel Junior